Não existe play by the book no varejo

Existe play by your book.

Ou, em bom português: jogue pelo seu próprio manual.

O varejo adora uma receita, Checklist, Benchmark, Modelo pronto.
Receita de sucesso em PDF e venda de fórmulas mágicas em imersões on-line e presenciais.

E aí todo mundo começa a correr na mesma direção, com as mesmas ferramentas, as mesmas promessas e, curiosamente, os mesmos problemas.

Mas aí entra o Trader Joe’s.
E bagunça o jogo.
De propósito.

Trader Joe’s e a coragem de não seguir o manual

Ele escreveu o próprio.

Sem cartão fidelidade.
Sem propaganda chamativa.
Sem e-commerce.
Sem delivery.

E mesmo assim, virou uma das redes de supermercado mais amadas dos Estados Unidos, com mais de 500 lojas, presença em 42 estados e uma legião de fãs que defendem a marca como se fosse time de futebol.

Estranho?
Não.
É só essência.

O começo diz muito sobre o fim

Em 1967, Joe Coulombe percebeu algo simples, mas poderoso.

Havia um grupo crescente de pessoas inteligentes, curiosas e conscientes do orçamento que não se sentiam representadas pelos mercados tradicionais.

O varejo da época era grande, frio e genérico.

Joe escolheu outro caminho.
Criou uma experiência.

Lojas menores.
Clima descontraído.
Produtos diferentes.
Nomes divertidos.
Uma estética quase lúdica.

Nada ali era por acaso.
Tudo era escolha, tudo tinha um propósito, um sentido.

Menos opção. Mais decisão.

Enquanto grandes redes oferecem quarenta tipos de pasta de amendoim, o Trader Joe’s oferece três.

E isso não é limitação.
É estratégia.

Menos escolha reduz fricção.
Menos escolha acelera a compra.
Menos escolha diminui o cansaço mental.

Curadoria é respeito.
Com o cliente.
Com o tempo dele.
Com a energia dele.

No fundo, o Trader Joe’s entendeu algo que muita marca ignora:
mais não é melhor. melhor é melhor.

Marca própria não é detalhe. É o jogo.

Mais de 80% dos produtos do Trader Joe’s são marca própria.

Isso elimina intermediários.
Dá controle de qualidade.
Aumenta margem.
Mantém preço justo.

Mas, principalmente, cria identidade.

Você não vai ao Trader Joe’s para comprar qualquer coisa.
Você vai para comprar aquela coisa que só existe lá.

Isso gera vínculo.
Gera memória.
Gera história pra contar.

Experiência incrível cria conexão inesquecível.

Pessoas não são custo. São estratégia.cionários não são custo. São estratégia.

O Trader Joe’s paga melhor.
Treina melhor.
Confia mais.

Resultado?

Menor rotatividade.
Mais engajamento.
Atendimento humano de verdade.

As pessoas gostam da loja.
Mas gostam quase tanto quanto gostam de quem trabalha nela.

Cliente é gente.
Colaborador também.

Quando isso é verdade, o resto flui.

Crescimento sem barulho artificial

O crescimento veio no boca a boca.

Gente indicando pra gente.
Experiência virando conversa.
Conversa virando movimento.

Não foi sobre aparecer mais.
Foi sobre merecer ser lembrado.

Hoje, muita marca investe pesado em mídia para compensar um produto fraco ou uma experiência esquecível.

O Trader Joe’s fez o oposto.
Fez tão bem que as pessoas quiseram voltar.
E trazer mais gente.

Mas não foi perfeito. E tudo bem.

Teve crítica.
Teve processo.
Teve recall.
Teve questionamento.

Marca real tem atrito. E tudo bem.
Empresa viva enfrenta problema.

A diferença é o que sustenta tudo quando o vento muda.

No caso do Trader Joe’s, a base era forte.
Essência clara.
Proposta coerente.
Valor entregue.

E isso segura.

A grande lição para o varejo, no meu ponto de vista

O problema do varejo hoje não é falta de tecnologia.
Nem de dado.
Nem de modelo.

É excesso de cópia.

Todo mundo querendo fazer igual.
Seguir o mesmo playbook (manual).
Usar a mesma fórmula mágica.

Só que o cliente não é fórmula.
É contexto.
É cultura.
É expectativa.

Não existe play by the book.
Existe play by your book.

Ou melhor ainda:
jogue pelo seu próprio manual.

O que o varejo precisa agora, na minha opinião

Mais essência.
Mais autenticidade.
Mais coragem.

Menos moda.
Menos receita pronta.
Menos benchmark vazio.

Não é sobre ser tudo para todos.
É sobre ser muito bom para alguém.

Não é trilho.
É trilha.

Quem tenta copiar o Trader Joe’s perde o ponto.
Quem aprende com ele, ganha visão.

Porque no fim, soma ou some.

E o varejo que vai sobreviver não é o que segue o manual.
É o que entende profundamente quem está do outro lado do balcão.

E entrega valor do seu jeito.
Com verdade.
Com propósito.
Com impacto.

UAU.

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