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Underconsumption: O fim do consumo sem sentido

Data
1/10/2024
Autor
Fred Alecrim
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Nos últimos anos, o TikTok tem impulsionado tendências consumistas, com vídeos de "hauls" e compras por impulso dominando o feed de muita gente. Só que, diante desse cenário de exagero, surge o movimento "underconsumption core", que aparece como um respiro. Ele traz uma proposta simples e ao mesmo tempo provocativa: consumir menos e de forma consciente, quebrando a lógica do excesso e do desperdício que é tão presente nas redes sociais.

O que é o "underconsumption core"? O "underconsumption core" defende o uso prolongado do que já temos, evitando comprar coisas que não são realmente necessárias. Como bem explica a designer e defensora da moda sustentável, Natalia Trevino Amaro: “É usar o que você já tem, não sair comprando todas as tendências que aparecem nas redes sociais e adotar uma mentalidade sustentável.” Parece até óbvio, né? Mas no mundo atual, onde tudo é rápido e descartável, resgatar a ideia de valorizar o que já temos é quase revolucionário.

A diferença agora é o impacto das redes sociais, que normalizaram o consumo descontrolado. Um estudo da Deloitte, em 2023, revelou que 49% das pessoas compram mais do que precisam, muitas vezes influenciadas por campanhas digitais e o que veem online. O "underconsumption core" aparece, então, como um chamado para nadar contra essa corrente.

Impacto financeiro e ambiental O movimento também não está isolado. Ele nasce num contexto em que as gerações mais jovens, como a Geração Z e os millennials, estão sob forte pressão financeira. Segundo uma pesquisa da McKinsey, mais de 40% desses jovens estão constantemente preocupados com sua saúde financeira, o que abre espaço para um estilo de vida mais minimalista e consciente.

E não é só isso. A consciência ambiental está crescendo a cada dia. Muitos jovens já entenderam que o consumo excessivo tem um impacto enorme no planeta. Uma pesquisa da Global Web Index mostrou que 54% dos millennials estão mudando seus hábitos por conta das mudanças climáticas.

Além disso, marcas de moda e beleza estão sendo cada vez mais pressionadas a serem sustentáveis. A União Europeia, por exemplo, já começou a exigir que os produtos tenham mais durabilidade. Isso está em total sintonia com o "underconsumption core", que valoriza o uso prolongado dos itens.

Exemplos de marcas que já seguem essa onda Algumas marcas não só entenderam essa mudança de comportamento, como se tornaram exemplos de como navegar nessa onda de consumo consciente. LL Bean e Patagonia são ótimos exemplos de como práticas sustentáveis e duradouras podem ser a chave para fidelizar consumidores mais conscientes.

A LL Bean, por exemplo, é conhecida pela qualidade e durabilidade de seus produtos. A marca oferece uma garantia vitalícia para muitos dos seus itens, o que incentiva os consumidores a comprarem uma vez para o uso de longo prazo, ao invés de substituir o produto com frequência. Isso está em total alinhamento com a filosofia do "underconsumption core", já que a marca promove o consumo responsável e a valorização dos produtos ao longo do tempo, quebrando o ciclo do descarte rápido.

A Patagonia vai ainda além. Além de fabricar produtos de alta durabilidade, a marca lançou a campanha "Don't Buy This Jacket" ("Não Compre Esta Jaqueta"), uma provocação direta ao consumismo. Eles incentivam as pessoas a pensar duas vezes antes de fazer uma compra, avaliando se realmente precisam de um novo item. A Patagonia também oferece o programa Worn Wear, onde os clientes podem reparar suas roupas ou até mesmo comprar peças usadas, promovendo um ciclo de reaproveitamento e evitando o desperdício. É uma verdadeira lição sobre como a sustentabilidade pode ser parte do propósito de uma marca.

Esses exemplos mostram que as marcas estão percebendo que o consumidor consciente valoriza durabilidade, reparos e responsabilidade social. E mais do que isso, percebem que podem ser parte da solução em vez de reforçar o problema do consumo desenfreado.

Desafios e críticas Apesar de ser uma ideia massa, o movimento enfrenta algumas críticas. Muitos influenciadores falam sobre consumir menos, mas logo depois aparecem promovendo novos produtos, o que enfraquece bastante a mensagem. Como diz o especialista em comportamento do consumidor Omar H. Fares, “alguns podem estar mais preocupados em parecer sustentáveis nas redes sociais do que em mudar de verdade.”

Outra questão é o impacto real do movimento. Todo ano, o Earth Overshoot Day — a data em que consumimos mais recursos do que o planeta pode renovar — acontece cada vez mais cedo. Em 2023, foi em 1º de agosto. Isso mostra que, apesar da boa intenção, o "underconsumption core" sozinho não consegue frear o ritmo do consumo global. São necessárias mudanças maiores, em nível institucional, para gerar um impacto mais significativo.

E agora, qual o caminho? Ainda assim, o "underconsumption core" é um convite para refletir. Assim como o "deinfluencing" (quando influenciadores falam o que não comprar), ele pode ser uma pausa importante no ciclo das compras por impulso. Ele propõe que a gente reveja a nossa relação com o consumo, abrindo caminho para escolhas mais conscientes e duradouras.

No fim, a grande lição aqui é que conscientizar é só o começo. Movimentos como o "underconsumption core" podem não resolver tudo sozinhos, mas são parte de uma mudança cultural maior, que pode abrir espaço para soluções mais amplas e impactantes no futuro. Afinal, toda grande transformação começa com uma pequena mudança de mentalidade, não é?

fontes:

  • McKinsey & Company, "The State of Consumer Behavior 2023"
  • Deloitte Consumer Insights, "The Impact of Social Media on Buying Habits"

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